There are many reasons why therapy can be more effective outside

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O Instituto de Psiquiatria da UFRJ – conhecido como IPUB – era um conjunto de prédios antigos, no chamado Campus da Praia Vermelha. Árvores centenárias, sossego, espaços agradáveis e ventilados, além da proximidade de casa, faziam o sucesso deste Campus, entre nós todos. Afinal, quem havia tido a infeliz ideia de criar uma “cidade universitária” tipo Brasília, a 25 km da zona sul do Rio? Aquilo ali era mil vezes melhor! Não tenho a menor dúvida que grande parte do encanto que a Psiquiatria exerceu sobre muitos de nós, deveu-se àquele lugar. As aulas e nosso aprendizado teriam sido completamente outra coisa, se tivessem ocorrido onde a maior parte de nosso curso transcorreu.

Realmente não sei como tudo aquilo está hoje. É provável que algumas obras de “revitalização” tenham estragado muita coisa, como costuma acontecer com obras deste tipo, como Thoreau já havia assinalado em “Walden, a vida nos bosques”. Prefiro manter viva a memória daquele silêncio distante do trânsito já infernal e cruzar aquele portão à pé. Era assim que fazíamos e, me lembro bem que, já na primeira vez, aqueles pacientes “soltos” pela imensa área externa, sendo entrevistados por estudantes e residentes, sentados em bancos, aproveitando as muitas sombras daquele lugar, tudo isso nos espantou. Espantou e contrastou com a frieza do Hospital Universitário e seus (nenhuns) espaços naturais.

Hoje estaríamos talvez com um tablet mas, na época, apoiávamos as folhas de anamnese numa prancheta qualquer. Os prontuários passeavam das enfermarias para o pátio e tomavam um pouco de sol, espantando o mofo. Eu era um dos que simplesmente adorava sentar e entrevistar um paciente assim, do lado de fora. As poucas vezes em que, pela chuva ou frio, fui obrigado a escolher uma sala para falar com um paciente, não foi a mesma coisa.

Esse modelo de clínica psiquiátrica, adotado desde não sei quando pelo IPUB, não era porém uma unanimidade. Eu me lembro de ter ouvido com surpresa – e até indignação – uma professora psicanalista criticar, com desdém, essa forma de se entrevistar os pacientes. Algo que certamente passou desapercebido por tantos outros mas que, para mim, me chamou a atenção. Como alguém poderia ser contra se atender um paciente do lado de fora, sob a sombra de uma árvore, numa manhã de sol? Nesta nossa era tão zelosa pela privacidade dos dados alguém logo levantaria a questão do sigilo…mas eu posso afirmar que, naquele tempo, nunca ninguém interpôs um porém aos atendimentos feitos desta maneira. Havia liberdade e, principalmente, muita naturalidade.

No artigo que dá título à essa postagem, o autor discorre sobre terapias feitas “do lado de fora” e reúne bons motivos para que esse estilo de clinicar seja levado à sério. Tudo isso me fez pensar em minha formação e na maravilhosa oportunidade que tive de estudar e aprender psiquiatria assim: do lado de fora. Talvez eu não teria mergulhado nesta especialidade, se não passado por essa experiência.

Obs: dedico este meu post aos meus colegas psiquiatras de formação – José Geraldo Graciano, Manoel Olavo Loureiro Teixeira, Ricardo Krause, Ricardo Santos e Celina Mannarino. Todos, como eu, devem se lembrar de como atendíamos nossos pacientes..

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