Fonte: Entrando na Telepsiquiatria na Era COVID-19: Desafios e Esperança | Tempos Psiquiátricos
Um interessante artigo onde os autores examinam, com muita sensiblidade, os muitos fatores que podem ser alterados na relação médico psiquiatra-paciente, ao passarmos de consultas presenciais para teleconsultas.
Percebe-se, no entanto, um enfoque bastante influenciado pela teoria psicanalítica e, portanto, isso constitui um problema no artigo, uma vez que nem todos os psiquiatras trabalham nesta direção. Quando os autores fazem referência ao papel representado pelas salas de espera, eu me lembro das minhas sessões psicanalíticas, muitos anos atrás… Havia uma diminuta e espartana sala (?) de espera onde, por mais que eu procurasse, eu nada encontraria. Nenhuma revista, nenhum som ambiente, muito menos uma tv. E aquilo me obrigava a parar e aguardar até a porta se abrir – eu jamais cruzava com outro paciente saindo. Comparar esse espaço de transição com as salas de espera de 99% dos psiquiatras atuais – onde vários pacientes de convênios, amontoados, aguardam ser atendidos nas próximas horas vendo tv ou checando seus celulares – serve para nos mostrar que uma teleconsulta pode, na verdade, representar uma experiência muito mais intimista do que uma ida à clínica nos dias de hoje…
Há porém considerações no artigo muito pertinentes sobre o contato visual e a atenção, sobre a dimensão da observação no exame psíquico feito através de um vídeo, sobre novas pactuações que serão necessárias. Mas, não podemos nos esquecer novamente: os autores não estão analisando uma típica consulta com um psiquiatra em consultório privado (ou clínica) como elas costumam acontecer hoje, no Brasil. As reflexões, entretanto, são ricas e altamente relevantes para a prática da telepsiquiatria. A (tele)propedêutica psiquiátrica é enfocada com muita clareza e transparência. Ao que tudo indica, ainda temos mais perguntas do que respostas.
Psiquiatria Digital 